terça-feira, 7 de setembro de 2010

OBSOLESCENCIA DOS ÍDOLOS

- Transforma-se..
Um homem bom, tenro coração, sonhos mil..
Pobre, não sabia que nessa vida guerrear não é alternativa.
Tantas batalhas perdidas, quanto sangue, suor e lágrimas derramadas.
Quantos calos e mutilações.. Sonhos que se vão.. Quanto desperdício..
E quando os sonhos caem por terra e os corações os lobos dilaceram,
surge Moloch.. Quanto poder! Faz-se o pacto: sacrifícios, lealdade.
Vão-se os sentimentos, vão-se as cabeças, vão-se as dores..
Nasce um guerreiro, olhos enegrecidos, armadura espessa, ríspida.
"sem dor nem pudor, o infiel da libra.." Mais um lobo nestas selvas..
E as vitórias vêm, e os corpos vêm... Em vão?
O que faria tão bravo e impetuoso guerreiro desarmar-se?
Quem sabe o fascínio, por outro poder, de igual intensidade, em oposição.

- Noutros campos..

Uma musa em guerra, traços finos, firme e delicada.
Há grande poder a sua volta, tudo é beleza, armas e golpes..
De seus anseios, nem os combatentes sabiam.
A musa dos campos de batalha sabia do imperativo das guerras,
pois era, e ainda é da cartilha de todo guerreiro/amante o inimigo comum..
Poucas batalhas, terríveis fins.. (seria o fim?)
As lágrimas correram, os sonhos também.
Tanta paixão e tanto desterro eram incompatíveis..
A musa das guerras foi ao chão.. Tanto vigor duraria pouco..
- Seria seu fim?
Quando os sonhos caem por terra e os corações os lobos dilaceram,
surge Fênix.. Quanto poder! Faz-se o pacto: renascimentos, sanidade.
Vão-se os sentimentos, poupam-se as cabeças, vão-se as dores..
Foi-se a guerreira, antes impetuosa, agora resignada.
Acostumou-se à brevidade, as batalhas viraram jogos furtivos..
Entre o tédio e a melancolia, fez sua rotina.
Brinca de guerrear seus afetos, mas antes de vingarem, incendeia-os,
e brinda o fim, a destruição prematura, glorifica-se com seu belo escudo,
tingido em cores mil, o brilho de cada cor, um amor que jaz.. sem espólios.


- Eis uma invasão..

Os dois, o Lobo guerreiro de Moloch e a Musa das alcovas, olhos em brasa..
E o choque.. que bela dança, instigados por seus ídolos, enfrentam-se!
Ele vence! Pasmem: ele pede revanche, ela atende..

- Algo perfuma este campo de batalha..
É um campo de rosas..
Há em ambos algo intimamente feroz.. Deleitam-se no que procuram..
A delicadeza das pétalas e o sangue derramado pelos espinhos
dão-se num só ato desejos confusos, difusos.. E pairam..

- E por um instante saem de si, irracionais..

O que seria aquilo?
Não era mais uma vingança cega nem outra cabeça a Moloch prometida,
nem mais um jogo fortuito da Musa das guerras.. O que os instigava então?
Creio que estavam ambos cômodos demais, eram deuses fora de si..

Que doutrinas ridículas eram essas? Onde já se viu?!
- Ela exalta a velocidade, o desapego, a partida.. (para escapar de si.)
- Ele exalta a violência, o despudor, a agressão.. (para escapar de si.)

Muitas derrotas e dores podem ser realmente traumáticas,
mas seria motivo para tantas fugas?
Aliás, creio que sejam apenas alegorias, complexas alegorias travestindo
um desejo simples, de completude, civilidade, calma, conjunção..

Não seria essa surpresa, essa empatia, uma chance que lhes cai nos braços?
Levantar velhas bandeiras já não basta..
Ícones mitológicos e divindades são perpetuados por quem?
E seu fim e ressurreição durante toda a História foram decretados por quem?
Guerreiros.. Amantes.. Nós.

Vinicius Bomfim.
(06/07/10)

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