quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Refazenda

O que exala de mim será a arte dos que virão.
O que fazem meus olhos e mãos exalou dos que partiram.
Retornará.

(...)

Porquanto, Universo
Não terás jamais..
As angústias e sensações que somente um
híbrido de anjo e ogro divino e condenado
poderia te provocar-ofertar (de novo)
para sempre instantaneamente.

Tu serás apenas em sonhos/desvario,
despertará.
Caneta Poema Guitarra Lex Cavaco
Todo maço será pouco, será nada.
Pelas gerações soarei, eterno, meu próprio Deus
entre os meus. Titãs. Sob templos e cavernas,

Eu.

Aos olhos do infinito, Universo Deus.
Sob meus olhos, deveras, ninfa, pura, verme ignorante.

Então, inerte, como não percebes jamais, continua..
Descansa e acorda sorrindo sob os véus da irrelevancia.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Centelha/luz/razão sobre as velhas cartas..
É ler as capas dos vinís dos
amores que disseram: fodam-se..
e se foderam todas..

Foi um erro imaginar um Beija-flor fora de mim..
Há muitas violetas velhas, mas há também o colibri..

"Há sempre alguém a esperar/procurar por algo de bom.."

Nestes jardins..
poemas, perfumes mil..
Esqueci que tinha prometido a mim não reproduzir nada,
fazer citações de músicas, livros ou poemas..
Nada que não fosse meu de fato, criação espontânea e orientada.
Acho que foi até uma espécie de protesto..

Mas não importa, acho que o que produzo, mesmo que
raramente, acaba representando mais do que essas válidas
mas controversas repetições..

(...)

Lembro que sentia até raiva de quem "não escrevia por si"(como eu dizia).
Como se fossem fracos, tivessem medo do que carregam, quisessem se
esconder mas precisando de representações, tentam fazer-se entender
ou compreender através dos escritos alheios..
Sem tanto radicalismo, continuo achando "ridículo"!

Continuo achando válido escrever o que se sente, seja o que for,
seja ao vento, ao tempo sobre si ou sobre qualquer bocó por ai em
que se deposita, na maioria das vezes, uma importância descabida.

Acho válido, acho digno..

O malvindo

Vive dando cabeçada.
Navegou mares errados,
perdeu tudo que não tinha,
amou a mulher difícil,
ama torto cada vez
e ama sempre, desfalcado,
com o punhal atravessado
na garganta ensandecida.
Este, o triste cavaleiro
de tristíssima figura
que nem mesmo teve a graça
de estar ao lado de Alonso
e poder narrar eventos
nos quais entrou de mau jeito
mas com sabor de epopéia.
Nada a fazer como este tipo
avesso a qualquer romança
ou ode, apenas terráqueo,
ou nem isso, extraterráqueo,
de quem não se ouve um grito
mais além do que gemido,
nem uma palavra lúcida
varando o cerne das coisas
que esperam ser reveladas
e nós todos pressentimos.
Inútil corpo, alma inútil
se não transfunde alegria
e esperança de renovo
no universo fatigado
em que repousa e não ousa.
Sua ficha - foi rasgada,
por ausência de sinais.
Seu nome - por que sabê-lo?
E sua vida completa
já nem é vida, é jamais.

Drummond.

O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras fatigadas de informar.
Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão, tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios: amo os restos, como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática: sou da invencionática...
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Já não há motivo para receios, nem preciso dizer, acho que
tem a ver com algo de oficial que os escritos têm assimilado..

Mas é como previsto, o que fica são as representações acima
dos homens, e jazem aqui algumas delas..

Novos ares e mares nos vieram, então riamos..

Afinal, há poucas coisas que admiro como o riso
provocado pela beleza do esquecimento..



(...)


Um nome que não escrevo há tanto, Nellynha.

E é só mais essa Nellosidade a que me permito..
Saudade e identificação com a Literatura de escola..
De volta..
Do Bucolismo ao Realismo..
Dos rios ao asfalto..
Da Delicadeza à Violência..
De Caeiro a Nietzsche..
Da Ingenuidade à Malícia..
De Volta..

(...)

Duas rodas, um garfo partido...
O peito aberto, músicas a toda altura..

Vingar/culpar/violentar-se entre os automóveis furiosos..

Voando e rindo

Nessa de corpo são/mente sã, sinto-me viciado, usurpado
de minha soberania de menino/atleta/homem/amante..

meu prazer físico se confunde com uma espécie de punição
redentora: cansaço e regozijo confundem-se..

E rio, satisfeito..

A exaustão tem me parecido tão indulgente nesses dias..

De novo os ciclos se formam e se destroem em minha mente..
São muito bonitas as interpretações que faço.
Mas e daí? Adianta de quê?


Desta vez vou me calar, não mais darei motivo para fugas..
Não precisarás mais de desculpas mirabolantes, desvios acrobáticos
e argumentos monumentais.. Nem mesmo silenciar..

Escrevo torto, mas escrevo por mim, de mim, por vezes sem mim..

Baby, não sei mais nem como te olhar, quando te vi fiquei feliz,
não senti teu cheiro mas tua figura me trouxe bons sentimentos..
( Repito: E daí? )


Seria loucura.. Seria loucura.. Tu não és tão simples..

Não há motivo para aplicar velhas fórmulas, capengas, obsoletas..
Nossa incompatibilidade vale-se por si, como antes..

Sempre te levei fardos enormes, travestidos..
Não mais..

De nada vale este sorrisinho no canto da boca achando(ridiculamente)
que tuas representações são "sinais" velados para mim..

Meus braços olhos boca e sentimento estão abertos, como sempre estiveram,
mas de nada te valem, como bem dito, sempre quero e espero demais..

E disto não escapo, não é tua culpa nem minha..

E a mim? Esperar por internalizações compatíveis.. É justo.

Não posso nem consigo abrir mão de meus desejos, da minha natureza,
seria suicidio tentar conciliar estes universos, tão belos, mas imissíveis.
Etariamente distantes..

Minhas lacunas são chagas silenciosas que não queres nem podes cuidar..
Destas carências e faltas a sorte pela sorte i preencher..


( 13.09.10 )

Dolo

Dias e dias, em noite me farão..

O que me faz um homem?
O que faz um homem?

Hoje é dia de lembrar o vício, o vício mor..
Hoje é dia de perder o siso.
Só torpor, nada do tipo dor..
Hoje é noite..

Hoje o pouco que era tudo, irá..
Hoje álcool veneno ou astúcia, fará..

Para sempre essa noite..

O silêncio, velando ira e farsa, irá,
fará de mim, vício, siso, dor e desamor..

E depois?


Não haverá vinil que me repare o termo
antes que eu dispare um ultimo verso..

De novo a para sempre, fim..
Mas aprendendo o que me pedem..

" Não sejas tolo, sejas homem! "

E noite me farei, da noite me farei..

Se antes me riam as ideias, agora mil
gestos vão calar, Mil gestos os calarão!

Segundo as professias,
um dia o silêncio será pleno, doce..


A rotina virá..
Terei enfim um estilo de vida, ou não.


( 06.08.10 )