quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Que eu morra dignamente..

Tantos "ícones"..
Tantos ícones que se vão..
Tantos mestres, tantas divas,
tantas deusas que se vão, todos os dias..
E vão, e vamos, todos os dias, em vão..
Seremos sempre loucos, seremos sempre só loucos..
Inconsequentes, falhos, tolos, drogados, forjados..
Morremos todos os dias..
Cassia Eller, Janis Joplin, Amy agora..
Todas.. todos.. Todos os dias, centenas
de nós morrem, esquecidos, substituídos..
Cazuza, Kurt, Raul.. Serão sempre ícones..
Ícones não existem.. Por Deus, eu existo!!
Não sou um estudante falho..
Um amante falho..
Um filho falho..
Um cidadão falho..
Por que tantos troféus?!



Fica feliz com o que tu faz..
Se isso te alegra, te faz chorar de orgulho
de si e não adoece ninguém, te orgulha, cara..
ninguém, nem tu, nunca vai achar que é o
suficiente, que é grande, que é do caralho..
O mundo se afunda em mediocridade,
e ela está em cada gesto teu, os outros estão te vendo e te julgando,
mas tudo de bom também tá em ti, tu sabe o que tu tá fazendo,
e tu tá fazendo por ti e pelos outros, e isso já vale..
Deus, que eu não me esqueça disso!
Deus, eu não acredito em Deus nenhum..
Deus, são tantas coisas que eu não posso esquecer..
Deus, eu nunca cantarei toda minha dor..
Deus, eu nunca escreverei toda a minha dor..
Deus, eu serei sempre um potencial..
Deus, eu sei que me amo e que por uma série de motivos
eu sou diferente, sou inquieto, sou limpo por fora, sujo por dentro,
Deus, eu nunca serei nada..
Deus, eu tenho muito amor em mim..
Ninguém nunca saberá quanto amor há em mim..
Há um universo dentro de mim..
Eu não sei o que dizer..
Eu não sei dizer pra ninguém que elas são
e eu sou também o mesmo Deus que morre em
cada lágrima que escorre dessas lentes impuras..
Eu preciso de socorro..
Eu sou todas as respostas..
Eu preciso de amor, eu preciso de muita coisa..
Eu posso dar muita coisa, eu sou muita coisa.
Eu não me caibo.. Eu não sei de nada..
Eu não sou nada, eu nunca serei nada..
Eu não quero ser nenhum Deus,
eu só quero paz pra poder saber o que eu sou,
eu levarei assim a vida inteira pra descobrir
quem eu sou, sem esclarecer nada a ninguém
e no fim não vai ter dado tempo..
Existindo como sou perco tempo todos os dias..
Qualquer medíocre nauseabundo é mais
feliz que eu, eu tenho instrumentos pra saber
de tudo, eu sinto tudo, eu sei de tudo,
eu vejo tudo, eu sei de tudo, ninguém
nunca vai saber o que se passa em mim..
Eu quero ter um filho,
eu quero ser eterno,
eu quero ter um filho..
Eu não quero morrer,
eu quero ter um filho..
Eu me amo, eu quero
ter um filho..
meu filho há muito está morto dentro de mim,
assim como outras infinitas partes de mim,
muito de mim morre todos os dias,
muito de mim morre antes de se pronunciar..
Esse mundo mata meus desejos antes
deles ganharem forma.. Antes de serem..
E isso me representa, estou sempre morrendo antes de ser..
Meus filhos também me são, e nunca consigo ser..
Há algo de letal em mim, contra mim, e ninguém vê..
para não sentir a dor de ser decapitado,
e ter os sonhos apodrecidos entre miolos ensangüentados,
cada filho meu-Eu, morre sempre que possivel..
e se nasce, nasce anencéfalo, amorfo, surdo-mudo, impossível..
Muito em mim nunca será, todos os dias não sou..
Há muito em mim que não quer ser, não compensa..
Não consigo destruir nada, eu faço parte de tudo,
o universo sou eu, Deus sou eu, eu não consigo
destruir nada em mim.. Eu sou deus..
Nunca houve em mim algo diferente do desejo
de viver, tudo o que quis na vida foi viver..
Nunca fui malevolente..
Nunca fui frio..
Nunca fui nada..
Os medíocres não, mas os que matam, os que
morrem e o que perdem a razão me são superiores..
Sabem o que é o gosto de sangue e são, simplesmente são..
Nunca serei..
Nunca perdi a razão e nunca matei nem morri de fato..
Nem de fato nem de direito, é tudo hipocrisia..
Nunca encontrarei meus afins,
nunca encontrarei meu perdão e meu prazer..
Nunca tive prazer..
Sou Deus sempre que posso,
alimento os prazeres mais egoístas
em putas-fadas mas nunca tive prazer..
Somente em mim vive o prazer..
Ele emana de mim mas nunca o senti..
Há um quê de divino, infinito e devastador
em tudo aquilo que emana de mim..
Espero que consiga morrer com dignidade, que
saibam que eu reconheci dignidade na minha morte..
Que eu morra de AIDS, que eu morra cedo,
mas que eu morra dignamente..
Que eu morra de câncer
Morrendo cedo ou tarde,
que eu tenha sido alguma coisa..
Que ao menos eu fique louco,que assim eu consiga
acessar o prazer e a beleza plena que mora em mim
e que se nega a mostrar-se a um mundo
tão indigno.. indigno dessa beleza..

Que eu morra dignamente..
Nunca saberão da minha
alegria, nem eu..
Nunca serei mau..
Nunca serei porra nenhuma,
que pelo menos eu morra dignamente..
Se minha morte não significar nada,
que pelo menos eu morra convencido
de que meus escritos desesperaram alguém..
Sempre me vêem um verme,
saibam, sempre estou entre deuses,
se me vissem como me vejo,
nos amaríamos, seriamos deuses..
Sempre que invado acidentalmente
vossos tempos e vos faço vermes,
me idolatram, me amam, me vêem..
Medíocres viciados no Mal!!
Talvez porque os vejo como deuses,
me calam elogios e insistem
na sua escatofilia..
Eu que não sou ninguém, desejo
só que pelo menos um dia,
surpresos, digam:

"Havia um sentido naquelas besteiras.."
"Ele não estava brincando..
Aquelas babaquices eram sérias.."
"Ele morreu.."
"Ele nem queria tanto assim.."
"Ele devia ter sido mais escutado.."
"Isso é perigoso.."

E que fechem essa janela, desconfortados,
pensativos, mesmo que só dure alguns instantes..

(23.12.11)

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