sábado, 17 de dezembro de 2011

Excesso. Soluço. Embriaguez de Tudo.


E a repulsa que sinto de mim mesmo
contamina cada molécula que respiro.
E o controle que tanto odeio e repudio
perpetua-se em cada impulso, o que explode
e o que trava, em cada movimento,
o que acarinha e o que agride.
E sob cada verdade que faço vingar está a
mentira que representa toda a minha existência.
E neste cemitério em que vagam putrefeitos
mortos-vivos já não sou digno nem do nobre
ofício de coveiro que em antigos sonhos infantes exaltei.
E jamais terei o único perdão de que me valeria,
jamais perdoaria minhas próprias ofensas..
Imiscuem-se verme e príncipe no mesmo instante,
refletidos em espelhos infinitos, amaldiçoadas
visões, inacabadas,assoberbadas, claudicantes..
Nem através dos vocábulos incógnitos
deste poeta maldito que existe em mim,
nem através da suavidade dos beijos e
afagos impuros da mulher que existe em mim,
nem através da rudeza mascarada do ilapidado
amante ressentido que existe em mim,
nem através dos mais simples balbucios da
criança que existe em mim, criatura alguma
poderá perceber a infinita podridão metamórfica que
me cala a boca, amarga o hálito, seca os olhos e me
faz repetir tamanho vitupério de tempos em tempos.
Nunca me quis rei, nunca me quis parvo,
nunca me quis escravo, nunca me quis..
Eu não tenho culpa.. Eu não tenho culpa..
Quem irá me convencer?!
E a despeito do que pensas, julgas, precipitadamente,
é neste onirismo insone, nestas sinfonias silentes,
nestes crisântemos desolentes, em que encontro
meu perdão, meu descanso, meu acalanto,
meus perfumes e o último suspiro de virtude e
verdade, antes que tudo se desfaça e recomponha
em novos e mais pavorosos monstros, como uma
eterna Fênix de profundos olhos negros, plumas
enavalhadas e garras contra-purificadoras.
Pesadelo infinito descrito entre soluços e silêncios
frente à turva imagem do último dos safos covardes,
algemados à inescapável semi-embriaguez de existir.

Que eu me perdoe um dia..


( 18.12.11 )

Nenhum comentário:

Postar um comentário