segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Auto-suficientes

Não sentem falta de nada, valem-se por si, não precisam dar respostas,
não dão o braço a torcer, não discutem nem ouvem, estão sempre certos.
Parece uma felicidade um tanto vaga, não se firma em nada que eu compreenda.
Estranho? Talvez...

Curioso: vangloriam-se de seus valores e virtudes, isto permeia suas
representações e todo o seu discurso se vale disso. Há uma premente crítica a
todo sentimento que não seja simples como as coisas da natureza, ao que não é
puro e bondoso, criticam também a observação e análise alheia que fazem deles,
afinal, não há motivo, individuos tão impecáveis jamais poderiam ser alvo do
julgo d'outros tão medianos; tais infâmias em totalidade não passariam de mera
inveja frente a tamanha superioridade, isto é sabido e evidente.
Criticam a "banalização do sentimento", cultuam a Liberdade, o Amor, a Verdade
e o Conhecimento sobre a vida e as coisas. Interessante...

Se não lhes falta nada, se são auto-suficientes psico-socialmente, por que e de
onde viria toda essa alteridade, toda essa bonança e preocupação moral?
Haveria firmeza em qualquer trato, de qualquer natureza com alguém que se julga
pleno, independente, por conseguinte, irremediavelmente superior?

Para mim seres tão divinos não precisariam de afirmativas tão recorrentes e
gratuitas para terem seu reconhecimento legitimado; como dito: valem-se por si.
Não haveria necessidade em afirmar-se diante de seres tão mediocres como o resto,
criaturinhas não-pensantes, de sentimentos inferiores e práticas torpes.
Primeiro: não entenderiam tamanho poder. Segundo: estas afirmativas só lhes
causariam inveja e medo ou reconhecimento e reverência; mas qualquer expressão de
réplica seria muito terrena, irrelevante, diametralmente distante para baixo.
Ó céus, ó Deus, ó vida, como entender criaturas tão sublimes e tão atraentes?
O que será deste parvo estratosfericamente desprovido da inteligencia cabível para
compreender estes deuses que estão anos-luz à sua frente em todos os sentidos?
Ah, sujeito atrevido! Que afronta! Quanta audácia!
Claro que um Deus jamais se inclinaria a responder a indagações tão descabidas e
sem o menor sentido lógico. É evidente que a resposta continuará sendo o silêncio,
que traz em si a altivez, elegância e supremacia das rainhas, condessas e deusas.
Reles mortal, ignorante, bárbaro que sou, jamais compreenderei...


( 01.03.11 )

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